Falsos Profetas, Teologia da Prosperidade e o Mercado da Fé no Brasil: Exegese de 2 Pedro 2:1-3
EXÓRDIO – O PROFETA MIRIM E A ECONOMIA DAS TROCAS SIMBÓLICAS: UM ALERTA TEOLÓGICO
Nos últimos meses, um fenômeno insólito — embora tristemente coerente com os rumos de parte do neopentecostalismo brasileiro — tomou os holofotes das redes sociais e, por extensão, o imaginário religioso nacional: o “profeta mirim”. Um adolescente, portando vestes clericais adaptadas, microfone em punho e retórica performática, passou a circular em igrejas e eventos cristãos, sendo tratado como “voz de Deus”, “porta-voz do Espírito” ou até mesmo “ungido de última geração”. Mais que a curiosidade popular ou o viral momentâneo, a notoriedade do menino se transformou em capital simbólico rentável: comunidades pagaram até 30 mil reais por suas “preleções”, deslocando-o por diversos estados do país, até que intervenções do Conselho Tutelar tentassem conter o avanço desse desserviço teológico e social.
Contudo, mais grave que o fenômeno em si é o terreno fértil que o permite. Um solo regado com ignorância bíblica sistematizada, ausência de formação teológica crítica e uma busca desenfreada por experiências espetaculares que, longe de revelarem o sagrado, apenas produzem anestesias momentâneas para uma espiritualidade adoecida. Este texto, como expressão do Laboratório de Teologia, nasce não da indignação passageira, mas do compromisso duradouro com a análise crítica da fé cristã em seus aspectos públicos, simbólicos e éticos.
Não se trata de uma crítica generalista ao movimento neopentecostal — aliás, afirmamos com ênfase que toda expressão autêntica da fé merece respeito e investigação séria. A crítica aqui reside na espetacularização da fé, nos desvios éticos reiterados, e na instrumentalização da religião como cabresto emocional e financeiro aos fiéis. O profeta mirim é apenas um sintoma: o problema é a estrutura que o acolhe, o capital simbólico que ele movimenta, e o desejo das lideranças eclesiásticas de rentabilizar o sagrado por meio da performance.
Para compreender esse fenômeno, propomos uma análise que parte de 2 Pedro 2:1-3 — texto contundente em sua denúncia de falsos mestres que, por ganância, exploram os fiéis com palavras fingidas — e a conectamos à teoria da “economia das trocas simbólicas”, de Pierre Bourdieu, que revela como a religião, em determinados contextos, se converte em mercado de bens simbólicos, negociando prestígio, fé e autoridade espiritual como mercadoria.
Além disso, recorreremos às obras de Dietrich Bonhoeffer — Discipulado, Ética e Resistência e Submissão — para opor à “graça barata” das preleções performáticas a “graça cara” de quem assume o custo do discipulado verdadeiro. Incorporaremos também as contribuições de Paul Tillich, com sua Teologia Sistemática e Teologia da Cultura, para entender como os símbolos sagrados se esvaziam quando desconectados da profundidade existencial e da responsabilidade ética. E por fim, dialogaremos com Severino Croatto, cujas abordagens sobre a fenomenologia da religião nos ajudarão a compreender como o neopentecostalismo se estrutura como manifestação legítima do sagrado, ainda que sujeita aos mesmos perigos que assolaram outras tradições: a banalização da transcendência.
Não será um texto leve. Nem deveria ser. Nossa proposta é crítica, densa, e por vezes cáustica. Não visamos “lacrar” em redes sociais, tampouco nos alinhamos ao moralismo religioso. O que buscamos é despertar um olhar lúcido, ético e teológico sobre os rumos da fé cristã brasileira, com coragem para nomear os desvios e compromisso para apontar caminhos.
Se as comunidades de fé — sobretudo as evangélicas — redescobrirem o valor do pensamento crítico, da leitura bíblica cuidadosa, da teologia honesta e do discipulado comprometido, talvez ainda haja esperança. E é com essa esperança inquieta que seguimos.
2. Exegese de 2 Pedro 2:1–3 – Texto, Léxico e Análise Histórico-Social
2.1 Texto Base: Tradução da Bíblia de Jerusalém
2 Pedro 2,1–3
Assim como, entre o povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores. Estes introduzirão dissimuladamente heresias perniciosas, renegando o Senhor que os resgatou, atraindo sobre si mesmos uma rápida perdição. Muitos seguirão suas práticas dissolutas, e por causa deles será difamado o caminho da verdade. Movidos pela ganância, farão de vós um negócio com palavras enganadoras. Mas a sua condenação há muito os espreita, e a sua perdição não dorme.
2.2 Texto Grego e Análise Léxica
Verso 1:
“Ἐγένοντο δὲ καὶ ψευδοπροφῆται ἐν τῷ λαῷ, ὡς καὶ ἐν ὑμῖν ἔσονται ψευδοδιδάσκαλοι, οἵτινες παρεισάξουσιν αἱρέσεις ἀπωλείας, καὶ τὸν ἀγοράσαντα αὐτοὺς δεσπότην ἀρνούμενοι, ἐπάγοντες ἑαυτοῖς ταχινὴν ἀπώλειαν.”
- ψευδοπροφῆται (pseudoprophētai): falsos profetas – impostores religiosos.
- ψευδοδιδάσκαλοι (pseudodidaskaloi): falsos mestres – ensinam o erro.
- παρεισάξουσιν (pareisaxousin): introduzirão dissimuladamente – ação sorrateira.
- αἱρέσεις ἀπωλείας (haireseis apōleias): heresias destrutivas – divisões letais à fé.
- ἀρνούμενοι (arnoumenoi): renegando – ato contínuo de negação.
- ἀγοράσαντα (agorasanta): resgatou – referência a Cristo.
- ταχινὴν ἀπώλειαν (tachinēn apōleian): rápida perdição – juízo iminente.
Verso 2:
“καὶ πολλοὶ ἐξακολουθήσουσιν αὐτῶν ταῖς ἀσελγείαις, δι’ οὓς ἡ ὁδὸς τῆς ἀληθείας βλασφημηθήσεται.”
- ἀσελγείαις (aselgeiais): práticas libertinas – corrupção ética e espiritual.
- ὁδὸς τῆς ἀληθείας (hodos tēs alētheias): caminho da verdade – designação primitiva do cristianismo.
- βλασφημηθήσεται (blasphēmēthēsetai): será blasfemado – escárnio social.
Verso 3:
“καὶ ἐν πλεονεξίᾳ πλαστοῖς λόγοις ὑμᾶς ἐμπορεύσονται· οἷς τὸ κρίμα ἔκπαλαι οὐκ ἀργεῖ, καὶ ἡ ἀπώλεια αὐτῶν οὐ νυστάζει.”
- πλεονεξίᾳ (pleonexia): ganância – cobiça espiritual e econômica.
- πλαστοῖς λόγοις (plastois logois): palavras fabricadas – engano retórico.
- ἐμπορεύσονται (emporeusontai): farão comércio – lucram com os fiéis.
- οὐκ ἀργεῖ... οὐ νυστάζει: não tarda... não dorme – juízo atento e presente.
2.3 Contexto Histórico-Social e Comunidade do Autor
2 Pedro, provavelmente pseudepígrafo do final do século I ou início do II, se dirige a uma comunidade em processo de institucionalização. A proliferação de mestres autônomos e dissidentes gerava necessidade de proteção da fé apostólica. A denúncia de falsos mestres indica não apenas divergência doutrinária, mas corrupção ética e mercantilização da fé.
O texto se insere em um esforço de preservação e purificação da tradição diante de ameaças internas — impostores que negociavam a fé como produto. Bart Ehrman destaca esse período como marcado pela crescente definição de ortodoxia e combate às heresias internas, frequentemente motivadas por interesses não espirituais.
2.4 Economia das Trocas Simbólicas e Mercado da Fé
Usando o conceito de economia das trocas simbólicas de Pierre Bourdieu, entendemos que os falsos mestres de 2 Pedro transformam capital simbólico (autoridade, carisma, “unção”) em capital econômico. A fé é convertida em mercadoria. O caso contemporâneo dos chamados “profetas mirins” — crianças ou adolescentes tratados como mediadores espirituais — é exemplo emblemático. Valorizados como prodígios espirituais, têm sua imagem midiática transformada em poder simbólico e financeiro. Cobrando altos cachês, mobilizando igrejas inteiras e consolidando carreiras públicas, tais fenômenos revelam a permanência da prática denunciada na epístola petrina.
2.5 Oração, Profecia ou Espetáculo?
A crítica do autor de 2 Pedro é contundente: trata-se de indivíduos que instrumentalizam a fé com intenções espúrias. A linguagem profética é substituída por performance religiosa. A comunidade se torna platéia. O culto vira show. Os fiéis são transformados em audiência.
Essa lógica está presente em diversas comunidades contemporâneas, onde a profecia não liberta, mas entretém; não denuncia, mas acomoda. A Palavra, moldada ao gosto do público, perde sua força profética e se converte em produto descartável, consumido conforme o algoritmo. A "rápida perdição" não é somente escatológica: é a deterioração ética do testemunho cristão.
Parte 3 – A espetacularização da fé e os desafios teológicos contemporâneos
A análise de 2 Pedro 2:1-3 permite lançar luz sobre práticas religiosas contemporâneas que, sob a aparência de piedade, instrumentalizam o sagrado como meio de dominação, enriquecimento e produção de espetáculos de fé. A advertência petrina, situada no interior de uma tradição profética crítica, ressoa com intensidade nas sociedades ocidentais marcadas pela midiatização da religião e pela mercantilização dos afetos espirituais.
A construção do “espetáculo da fé” em determinadas expressões do cristianismo atual se ancora em uma lógica de visibilidade e performatividade. A fé deixa de ser vivida como caminho existencial e comunitário de discipulado, e passa a ser exibida como produto — um capital simbólico de alto valor no mercado da notoriedade pública. Neste contexto, líderes religiosos se tornam celebridades, os templos se transformam em palcos e os cultos em grandes eventos performáticos, nos quais os fiéis são convertidos em audiência. A promessa de bênçãos e prosperidade é repetida com linguagem emocional e retórica publicitária, frequentemente dissociada da mensagem evangélica original, que convoca à conversão, ao discipulado e à solidariedade com os vulneráveis.
A teóloga Ivone Richter Reimer, em Economia no Mundo Bíblico, aponta que as relações econômicas nas Escrituras não estão organizadas segundo uma racionalidade de acumulação, mas segundo uma lógica de redistribuição, hospitalidade e mutualidade. Ao contrário disso, a espetacularização contemporânea da fé muitas vezes reproduz uma lógica de escassez e competição, onde a fé é convertida em moeda de troca e o “milagre” em bem simbólico negociável.
Este deslocamento teológico — do dom gratuito à barganha ritual — encontra paralelo com o que Pierre Bourdieu descreve como transformação do capital simbólico em instrumento de dominação. Os discursos religiosos que prometem “chaves de vitória”, “portas abertas”, “campanhas de restituição” ou “objetos ungidos” fazem uso da linguagem da transcendência, mas a operam segundo códigos mercadológicos. O resultado é uma simbiose entre desejo religioso e lógica do consumo, onde a bênção torna-se produto e o sagrado, espetáculo.
É necessário, contudo, reconhecer que a crítica aqui formulada não se dirige ao fenômeno religioso em si, nem ao uso da estética ou da mediação tecnológica no culto. Trata-se de uma crítica ética e teológica à distorção do Evangelho, quando este é convertido em instrumento de manipulação e lucro. A tradição cristã sempre soube, desde seus primórdios, que o anúncio do Reino não se coaduna com a simonia, tampouco com a expropriação da fé dos pequenos.
Assim como a carta de Pedro alerta para os perigos de mestres que, “movidos por ganância, com palavras forjadas vos explorarão” (2 Pe 2:3), a teologia contemporânea é convocada a discernir os sinais dos tempos. A espetacularização da fé, se não confrontada, esvazia o conteúdo do Evangelho, reduz o seguimento de Jesus a um roteiro performático e promove uma alienação teológica que distancia os crentes da verdadeira vocação do discipulado: o seguimento do Cristo crucificado, pobre entre os pobres, sinal do Reino de Deus.
Diante disso, o papel do teólogo, do pastor, do educador cristão e do fiel engajado é o de reafirmar, com clareza e coragem, uma teologia da graça e do serviço. Uma teologia que resista à lógica da exploração simbólica e recupere o horizonte escatológico do Evangelho: não o sucesso neste mundo, mas a transformação do mundo à imagem do Reino.
Parte 4 – Bonhoeffer: graça cara, discipulado e resistência à religião do espetáculo
A crítica à espetacularização da fé e à sua instrumentalização como meio de dominação encontra fundamento robusto na teologia de Dietrich Bonhoeffer, especialmente nos conceitos de “graça barata” e “graça cara”, desenvolvidos em sua obra Discipulado (Nachfolge, 1937). Para Bonhoeffer, a graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, o batismo sem disciplina e a comunhão sem confissão — é, portanto, a negação da cruz. Já a graça cara é aquela que “custou a Deus a vida do seu Filho, e o que custou caro a Deus não pode ser barato para nós” (BONHOEFFER, Discipulado, p. 23).
No contexto do cristianismo midiatizado, marcado por performances religiosas onde a cruz é silenciada em nome de promessas de sucesso e prosperidade, a denúncia de Bonhoeffer adquire renovada atualidade. O autor nos exorta a rejeitar a religião como mecanismo de autojustificação e poder, e a redescobrir o seguimento radical de Cristo. A graça não é produto de mercado, mas chamado ao discipulado, ao custo do próprio eu.
Essa mesma crítica está presente na obra Ética, na qual Bonhoeffer aponta os perigos da religião desprovida de conteúdo ético, sobretudo aquela que legitima estruturas de poder e violência. A verdadeira ética cristã, diz ele, deve ser vivida “a partir de Cristo e não a partir de normas abstratas” (BONHOEFFER, Ética, p. 85). Não há, portanto, espaço para a manipulação do sagrado como moeda de autoridade — o Evangelho é sempre chamado à responsabilidade diante do outro.
Mais adiante, nas suas cartas reunidas em Resistência e Submissão, escritas da prisão nazista, Bonhoeffer introduz o conceito de um “cristianismo não religioso”, um caminho espiritual que se liberta dos mecanismos de poder e da institucionalização da fé como espetáculo. Ele clama por uma Igreja que fale ao mundo não a partir de privilégios, mas de serviço; não com a linguagem do domínio, mas com a do amor encarnado.
Sob esse prisma, o fenômeno do “profeta mirim” e a adesão de comunidades inteiras a figuras carismáticas que cobram altos valores por preleções religiosas revelam a dramaticidade da “graça barata”. A piedade se torna espetáculo, o púlpito se converte em palco, e a fé é reconfigurada como entretenimento espiritual.
Ao confrontar essa realidade com Bonhoeffer, percebe-se que a missão teológica da Igreja não é confirmar as lógicas do mundo, mas contradizê-las em nome da cruz. Isso significa resistir ao uso performático do sagrado e retornar à radicalidade do seguimento de Cristo — onde há renúncia, ética, solidariedade e vida comunitária. É nesse solo que floresce a verdadeira teologia: não no ruído dos aplausos, mas no silêncio do serviço.
Parte 5 – Paul Tillich: teologia sistemática, cultura e o vazio de sentido nas religiões do espetáculo
A teologia sistemática de Paul Tillich oferece uma contribuição essencial para compreender os desvios contemporâneos do cristianismo, especialmente no que diz respeito à redução da fé a mecanismos de alienação e espetáculo. Tillich nos convida a pensar Deus não como um ente supremo isolado do mundo, mas como “o fundamento do ser”, aquilo que confere sentido à existência e se manifesta como a preocupação última do ser humano (TILLICH, Teologia Sistemática, vol. 1, p. 12).
Essa preocupação última — que para o cristianismo deveria ser Deus — tem sido substituída, nas práticas neopentecostais espetacularizadas, por bens simbólicos que circulam sob forma de promessa: cura, sucesso, poder espiritual e prosperidade financeira. O sagrado é deslocado para o plano das necessidades imediatas e condicionado a performances públicas, desconectadas da tradição e da profundidade do Evangelho. Tillich chama a isso de idolatria da religião — quando o próprio sistema religioso se torna um fim em si mesmo, desligado da experiência autêntica do sagrado.
Em sua Teologia da Cultura, Tillich argumenta que a religião se manifesta no coração da cultura e que, por isso, toda expressão religiosa é também expressão cultural. Contudo, ele alerta que quando a religião perde sua capacidade de criticar e redimir a cultura, torna-se sua cúmplice. Assim, ao invés de ser um sinal profético no mundo, a Igreja pode tornar-se apenas mais um agente de reforço das estruturas alienantes da sociedade.
O uso performático da fé, como no caso do “profeta mirim”, é um exemplo claro dessa cúmplice alienação. Trata-se de um fenômeno que retira da fé sua função de interrogar a realidade e devolvê-la ao mundo como símbolo de transformação. Em vez disso, a fé é mercantilizada e oferecida como espetáculo aos espectadores da religião, transformando o púlpito em palco e o rito em entretenimento. A promessa não é mais a salvação, mas o milagre pontual, o sucesso individual, a sensação de pertencimento a um grupo “espiritualmente mais elevado”.
Para Tillich, isso evidencia um vazio de sentido: as religiões do espetáculo não respondem às angústias últimas do ser humano, apenas as disfarçam com elementos simbólicos de consumo. A transcendência é sufocada pela estética, e a esperança, deslocada para o curto prazo. Nesse cenário, a teologia é chamada a retomar seu papel crítico e criativo, oferecendo não a ilusão do sagrado, mas a revelação do fundamento do ser, que nos convida à coragem de existir, mesmo diante da dúvida, da dor e da complexidade.
É nessa chave que a teologia precisa reagir: não com escândalos midiáticos ou guerras simbólicas, mas com lucidez, profundidade e fidelidade ao Evangelho. Retomar Tillich é recuperar a coragem de perguntar, a ousadia de dialogar com a cultura e a convicção de que a fé cristã não se reduz a fenômenos mercadológicos, mas revela-se no encontro entre Deus e o humano, onde há verdade, justiça e comunhão.
Parte 6 – A (des)configuração discursiva do neopentecostalismo brasileiro: da ortodoxia fundamentalista à alienação performática
As transformações que marcaram o neopentecostalismo brasileiro nas últimas décadas apontam para uma ruptura discursiva e teológica de proporções inquietantes. O movimento, que em suas origens operava com categorias oriundas do pentecostalismo clássico — marcada pela centralidade da experiência do Espírito, pelo compromisso com a Bíblia e por uma vivência comunitária profundamente cristocêntrica —, passou a transitar por trilhas sinuosas de autoconstrução simbólica, retóricas performáticas e inserção no mercado da fé.
A análise do discurso das lideranças neopentecostais evidencia essa mutação. Aquilo que antes era compreendido como “missão”, “evangelização” e “discipulado” dá lugar a termos como “projeto”, “impacto”, “resultado” e “influência”. A linguagem eclesial passa a ser colonizada por vocabulários oriundos da gestão empresarial, do marketing de influência e da performance digital. O púlpito converte-se em palco. O pastor, em CEO. A comunidade de fé, em franquia eclesiástica. Não se trata apenas de uma mudança semântica, mas de uma reconfiguração da própria teologia e da natureza da experiência cristã.
Nesse processo, o que se observa é o abandono da ortodoxia pela espetacularização da fé. O culto torna-se show. A oração vira slogan. A Bíblia é usada como trampolim retórico para discursos motivacionais e coachings espirituais. Tal realidade configura o que Dietrich Bonhoeffer denuncia em sua obra Discipulado como “graça barata” — aquela graça que é oferecida sem discipulado, sem cruz, sem seguimento de Cristo. Bonhoeffer, que foi um dos grandes teólogos luteranos do século XX e atuante no movimento ecumênico por meio do Conselho Ecumênico das Igrejas (World Council of Churches, em seu estágio embrionário), retorna à Alemanha nazista quando poderia permanecer em segurança nos Estados Unidos. Ele o faz movido pela convicção de que a fé cristã deve estar onde há sofrimento, injustiça e perseguição. Morre em 1945 num campo de concentração, deixando entre seus escritos um poema que expressa sua esperança escatológica: “Pois sei que o fim é só o começo…”.
É nesse horizonte de compromisso radical com o Evangelho que se torna ainda mais grave a manipulação simbólica operada por muitos líderes religiosos contemporâneos. Em vez de promoverem a reconciliação e a justiça — sinais do Reino —, tornam-se operadores do capital simbólico, acumulando prestígio, visibilidade e influência midiática. O “profeta mirim”, as campanhas publicitárias, os discursos viralizáveis são expressões desse deslocamento. Aqui, a análise bourdieusiana do campo religioso se faz imprescindível: o sagrado se torna um campo de disputa por legitimidade e poder, não mais uma arena de serviço e entrega.
Outro aspecto crítico refere-se à distorção de princípios que deveriam ser fundamentais à fé cristã. Um deles é o ecumenismo. Diferente do ecumenismo cristocêntrico, que promove o diálogo, o reconhecimento da alteridade e a busca pela comunhão entre os diferentes ramos do cristianismo (e entre religiões), há, no contexto neopentecostal performático, uma falsa visão de ecumenismo. Como foi apontado nesta análise, trata-se de um sincretismo superficial, muitas vezes vinculado a discursos empresariais e políticos, que instrumentaliza a religião como estratégia de poder. Não há aqui verdadeira abertura fraterna ao diferente, mas sim alianças utilitárias, firmadas em nome da visibilidade, da audiência e da lucratividade institucional. Essa prática afasta-se radicalmente da tradição ecumênica de Bonhoeffer e de tantos outros teólogos que vislumbraram no ecumenismo a possibilidade de construção de pontes para a fraternidade cristã e humana.
Tal deturpação torna o campo religioso vulnerável a processos de alienação espiritual. A espiritualidade perde sua dimensão profética, seu caráter escatológico e libertador, para tornar-se apenas motivacional. A fé torna-se um produto, e a salvação, um serviço. A cruz é substituída pelo palco, e a igreja, pelo auditório. O Evangelho, nesse cenário, sofre uma distorção perigosa: não mais proclama libertação aos cativos, mas reforça a lógica da meritocracia, do individualismo e da estética triunfalista.
A teologia precisa reagir a esse processo com firmeza. O anúncio do Reino de Deus não pode ser mercadoria. Como nos adverte Paul Tillich, quando a religião se torna instrumento da cultura, ela corre o risco de tornar-se irrelevante. É preciso restaurar o escândalo da cruz, a simplicidade do seguimento, a densidade do discipulado. A teologia que se cala diante da espetacularização da fé torna-se cúmplice da alienação espiritual.
O chamado, portanto, é por um retorno à radicalidade do Evangelho. Um retorno que exige renúncia, compromisso, integridade e coragem profética. A Igreja de Cristo não é empresa, não tem CNPJ, não está em busca de audiência, mas de comunhão. E, como nos lembra a própria tradição apostólica, “aqueles que têm virado o mundo de cabeça para baixo chegaram também aqui” (At 17,6). Que essa inversão — a do Reino — seja novamente o escândalo que move a Igreja.
Parte 7 – A insurgência do Reino: escatologia como crítica profética à lógica da performance e do espetáculo
A esperança escatológica cristã não é uma fuga do mundo, tampouco um devaneio místico sobre um “céu” etéreo e alienante. Ela é, fundamentalmente, um grito de insubmissão. A escatologia bíblica denuncia as estruturas injustas do presente porque afirma que o mundo tal como está — marcado por desigualdades, violências, manipulações e idolatrias — não é definitivo. Em sua forma mais radical, ela proclama: “Outro mundo é possível, porque Deus o quer, e o está inaugurando.”
Ao longo das Escrituras, a escatologia é atravessada por denúncias e promessas. Os profetas não se limitam a anunciar o “fim dos tempos” como evento catastrófico; eles apontam a perversão do culto, a aliança espúria entre religião e poder, o esvaziamento ético da espiritualidade. Isaías, Amós, Miquéias, entre tantos outros, ergueram suas vozes contra uma fé que excluía o pobre, o estrangeiro, a viúva e o órfão, ao mesmo tempo em que erguia templos suntuosos e oferecia sacrifícios supostamente impecáveis.
É nesse horizonte que o discurso escatológico assume sua função profética. Ele desmascara a religião que se prostitui com o poder. Ele revela que, enquanto a fé for performance, enquanto a salvação for vendida, enquanto o templo for palco e o altar for mercadoria, o Cristo continuará sendo crucificado nas periferias da história.
Essa crítica se atualiza de modo contundente diante do cenário religioso contemporâneo. A estética da fé, hoje, parece muitas vezes prevalecer sobre a ética do Evangelho. Prevalece o culto à imagem, à autoridade carismática, ao sucesso — e não ao serviço, à entrega, à comunhão. O palco substitui o monte, e a luz artificial toma o lugar do rosto resplandecente de Cristo. E o problema não está na tecnologia, mas no discurso que a instrumentaliza para o vazio.
A escatologia cristã denuncia essa lógica porque ela não reconhece o Reino de Deus na performance, mas na encarnação. O Reino se dá na partilha, na escuta, no abraço, na mesa comum. Ele se manifesta em gestos concretos de justiça, em vidas que se doam, em comunidades que testemunham com o corpo a esperança da ressurreição.
O espetáculo midiático da fé jamais poderá representar essa esperança. Ele é ruidoso demais para escutar o clamor dos humildes. É centrado demais na figura do líder para perceber o invisível. É imediatista demais para sustentar a espera. A escatologia cristã, ao contrário, se faz na paciência dos profetas, na resistência dos mártires, na firmeza dos que sonham com “novos céus e nova terra” onde “habita a justiça” (2Pe 3,13).
Portanto, recuperar a escatologia como força crítica é recuperar a dignidade do testemunho cristão. É dizer que não aceitamos este mundo como está. Que não aceitamos uma fé deformada pela estética da performance. Que o Reino de Deus está entre nós — mas não na lógica do capital simbólico, e sim no escândalo da cruz, na humildade do serviço e na promessa da ressurreição.
Parte 8 – O escândalo da cruz e a ruptura do pacto entre religião e mercado
A cruz de Cristo é, para os que creem, poder de Deus; para os que perecem, loucura. Mas, para os que dominam — política, econômica ou religiosamente —, a cruz é ameaça. Ela não pode ser capturada, mercantilizada ou domesticada sem que perca sua potência subversiva. Por isso, a história das religiões institucionalizadas revela uma recorrente tentativa de estetizar, higienizar e instrumentalizar a cruz: ou a douram e a colocam no alto de catedrais triunfalistas, ou a escondem sob discursos motivacionais e teologias do sucesso.
Contudo, o Evangelho não permite tal manobra. O Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios (1Co 1,23), não é símbolo de domínio, mas de entrega. Ele desestabiliza qualquer sistema que tente capturá-lo, inclusive o religioso. A cruz denuncia um pacto histórico que, frequentemente, se renova entre religião e mercado — um pacto que, em nome da segurança, da prosperidade e da visibilidade, abandona o Evangelho e vende sua alma ao capital simbólico.
Aqui, cabe lembrar a advertência do teólogo José Comblin: o cristianismo, quando se aproxima demais do poder, inevitavelmente se corrompe. E isso porque o poder não suporta a cruz, tampouco o Deus que nela se revela. A religião mercantilizada prefere o altar do consumo, o púlpito da influência, a plateia dos algoritmos. Prefere vender “experiências religiosas” a formar discípulos. Prefere prometer bênçãos do que denunciar injustiças. Prefere performar curas do que acompanhar os enfermos.
Contra isso, o escândalo da cruz se levanta como resistência. A cruz aponta para a centralidade do corpo — do corpo de Cristo entregue, mas também do corpo social ferido, do corpo negro marginalizado, do corpo indígena violentado, do corpo feminino silenciado. A teologia da cruz, como afirmava Martim Lutero, é teologia dos crucificados da história. Ela se opõe à teologia da glória que legitima os vencedores e mascara a dor dos vencidos.
É nesse cenário que ecoa uma afirmação que tem guiado minha busca teológica e espiritual: procuro uma igreja que seja da porta larga, braços abertos, pronta para receber. Pois o caminho estreito foi adotado pelos humanos que se julgam donos de Deus. Mal sabem eles que Deus não pode ser dominado, pois Ele é mistério. Um mistério que se revela não no trono dos palácios, mas na madeira da cruz. Um Deus que não se deixa conter por dogmas intransigentes, mas se manifesta no amor que acolhe, escuta, suporta, transforma.
O rompimento com o pacto entre religião e mercado passa, necessariamente, por uma reapropriação radical da cruz. Ela nos obriga a perguntar: que tipo de fé proclamamos? Que tipo de comunidade formamos? Que tipo de Reino anunciamos? A cruz não pode ser ornamento nem slogan. Ela é juízo e graça. É denúncia do mundo como ele é e anúncio do mundo como ele será, na plenitude do Reino.
Portanto, diante de uma espiritualidade domesticada, que reduz o seguimento de Jesus à adesão a um produto religioso, o escândalo da cruz emerge como o centro inegociável do Evangelho. Ele convoca a Igreja a deixar de ser vitrine para ser mesa; a deixar o palco para ocupar a rua; a abandonar o discurso triunfalista para ouvir o clamor do povo. A cruz, enfim, reconduz a Igreja à sua vocação: ser corpo de Cristo no mundo, entre os que sofrem, entre os que esperam, entre os que crêem que o Reino já começou, mas ainda não terminou de nascer.
Parte 9 – A comunidade do pão partido: memória, partilha e subversão
A memória de Jesus é uma memória perigosa — perigosa como advertiu Johann Baptist Metz — porque não permite que esqueçamos os crucificados da história. Trata-se de uma memória insurgente, ativa, convocatória. O "fazei isto em memória de mim" (Lc 22,19) não é mero memorial litúrgico, mas ato político e espiritual de reatualização do Cristo nos gestos cotidianos de justiça. A ceia de Jesus não é ornamento devocional, mas denúncia contra toda forma de exclusão.
Desde os primeiros tempos, no entanto, essa prática de partilha foi tensionada por forças que operavam para sua domesticação. A Primeira Carta aos Coríntios (1Co 11) revela o escândalo da desigualdade já infiltrado nas celebrações: os ricos comiam com fartura e antecedência; os pobres, se chegavam, encontravam migalhas. Paulo não silencia: isso não é mais a ceia do Senhor. Esse tipo de reunião humilha os que nada têm. O corpo de Cristo, ao invés de unido, tornava-se novamente fraturado — não pelo prego romano, mas pela indiferença dos próprios irmãos.
Hoje, essa mesma fratura se perpetua nas sutilezas do sagrado mercantilizado. Recentemente, viralizou nas redes sociais a notícia de igrejas que passaram a implementar “áreas VIP” para receber membros “midiáticos” ou visitantes de relevância social. Políticos, influenciadores, celebridades religiosas ou empresariais agora têm lugar reservado no “altar do prestígio”. O que outrora era templo da partilha torna-se vitrine do status. Não se trata mais de partir o pão com os pequenos, mas de partilhar o prestígio entre os grandes. Não há mais corpo de Cristo partido entre iguais, mas arquibancada para que os notáveis assistam o culto como quem desfruta de um camarote em show de celebridade. O escândalo eucarístico dá lugar ao espetáculo eclesiástico.
Mas o Evangelho insiste: Jesus partiu o pão com Judas, olhou para Pedro antes da negação, lavou os pés de todos, sem distinção. O critério da mesa de Jesus nunca foi o mérito, a fama ou a reputação — foi a fome, a sede de justiça, o desejo sincero de comunhão. A Ceia do Senhor não pode ser convertida em selo de distinção, em camarote da fé ou em espaço de ostentação espiritual.
A comunidade do pão partido é, por definição, uma comunidade subversiva. Ela nasce da partilha e vive do escândalo da inclusão. Ela denuncia o luxo nos templos quando o povo passa fome nas ruas. Ela rompe com a liturgia da aparência e se ancora no sacramento do encontro.
A Igreja, se deseja reencontrar sua vocação, precisará abandonar os púlpitos blindados e retornar às mesas abertas. A partilha do pão é um ato escandaloso porque anula hierarquias, dissolve castas, rompe com a lógica de poder que separa “celebridades” de “anônimos”. A verdadeira ceia é uma recusa ativa à lógica do privilégio. Cada vez que alguém parte o pão com o que sofre, comunga verdadeiramente com o Cristo.
Na tradição dos mártires, nas fogueiras da mística popular e nos gestos ocultos da solidariedade cotidiana, essa memória perigosa permanece viva. A Igreja não é auditório, nem lounge, nem startup espiritual. Ela é comunidade de partilha, corpo que sofre com seus membros, espaço de memória encarnada do amor de Deus. Enquanto houver pão partido e lugar para todos à mesa, o Reino estará entre nós.
Parte 10 – A boa notícia não é produto: o evangelho e sua resistência à mercantilização
A palavra “evangelho” — euangelion, boa notícia — foi sequestrada por discursos que a transformaram em slogan de propaganda, moeda de troca, etiqueta de produto. A boa notícia de Jesus, anunciada aos pobres, libertação aos cativos e vista aos cegos, foi transformada por muitos em marketing da salvação, em franquia de sucesso pessoal, em fórmula mágica para prosperidade. Onde antes ecoava a esperança dos oprimidos, agora ressoa o jargão publicitário dos coaches espirituais.
Contudo, o evangelho resiste. Ele não se submete às lógicas do capital, nem aos algoritmos das redes. Sua lógica é inversa: o menor é o maior, o último é o primeiro, o que perde a vida a encontra. Ele não se vende, não se monetiza, não se transforma em curso ou infoproduto da graça. O evangelho exige corpo, presença, entrega. Ele não é um bem de consumo, mas um chamado à conversão.
Há quem queira empacotar a fé, vendê-la como solução, terceirizar a salvação em parcelas mensais. Mas o evangelho continua sendo gratuito — e, por isso mesmo, escandaloso. Ele exige responsabilidade, não conveniência. Ele interpela, não adula. Ele não promete sucesso, mas cruz. Não fala de ascensão social, mas de descida ao mundo dos esquecidos.
Jesus não fundou empresa, nem lançou aplicativo, nem escreveu best-seller. Ele caminhou com os pobres, denunciou os hipócritas, curou em dia de sábado, perdoou publicanos e acolheu mulheres. Sua “estratégia de crescimento” era perder seguidores quando a palavra ficava dura demais. Seu “engajamento” aumentava à medida que se tornava mais perigoso para o sistema religioso-político da época. Sua fidelidade não estava no sucesso, mas na verdade.
Por isso, quando o evangelho se torna produto, deixa de ser evangelho. Quando o púlpito vira palco e a liturgia vira entretenimento, não é a Boa Nova que está sendo anunciada — é apenas mais uma peça no teatro do mercado religioso. E o povo, faminto de sentido, termina iludido com promessas vazias, encenadas por celebridades da fé que não conhecem as feridas da cruz.
É preciso, então, reaprender a anunciar. Reaprender a viver. Reaprender a partilhar o pão e o coração. O evangelho não se adapta à cultura do espetáculo: ele a questiona. Não se dobra à lógica da performance: ele a confronta. A boa notícia continua viva — mas talvez esteja nas margens, fora dos holofotes, no silêncio de quem reza com lágrimas, na luta de quem ainda insiste em amar.
Pós-escrito: Sobre a Postura e o Propósito do Laboratório de Teologia
Este artigo, como todas as produções do Laboratório de Teologia, não se propõe a ocupar o púlpito da certeza ou a erguer bandeiras doutrinárias. Ao contrário, assume a teologia como uma tarefa crítica, situada e inacabada — um esforço humano de pensar, com honestidade intelectual e sensibilidade histórica, sobre aquilo que outros antes de nós chamaram de “Deus”.
Em determinados momentos, as linhas aqui traçadas podem sugerir afinidade com discursos ortodoxos. Mas não é a ortodoxia pela ortodoxia o que se pretende. Afinal, se a ortodoxia é a "defesa de Deus", ela é teologicamente irrelevante — pois Deus, enquanto mistério último e fonte do ser (para quem ainda crê nele), não precisa ser defendido por nós. Não há escudo humano capaz de proteger o inominável. O que há são discursos humanos que, sob a pretensão de falar em nome do sagrado, muitas vezes obscurecem-no com suas próprias vaidades e interesses.
Nosso intento é outro. É lançar luz sobre os discursos religiosos que se afirmam em nome de Deus, mas se estruturam a partir de mecanismos de poder, espetáculo e manipulação. É perguntar, com seriedade filosófica e responsabilidade pastoral, quem fala, a quem serve, e com quais efeitos, quando se pronuncia “Deus” na arena pública, no templo, na tela ou no palanque.
O Laboratório de Teologia não está a serviço de uma confissão particular, tampouco de uma negação sistemática da fé. Está a serviço da reflexão teológica como ato de resistência contra a banalização do sagrado, contra o uso da fé como mercadoria ou instrumento de cabresto simbólico. Está a serviço do estudo cuidadoso, da escuta crítica, do diálogo com a tradição e da abertura à alteridade.
Fazemos teologia não porque tenhamos todas as respostas, mas porque seguimos assombrados pelas perguntas.

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