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Mostrando postagens de abril, 2025

Princípios Religiosos vs Doutrinas Religiosas: Uma Análise Teológica, Crítica e Sociológica da Fé e do Poder

Princípios Religiosos e Doutrinas Religiosas: Uma Análise Crítica Princípios Religiosos e Doutrinas Religiosas: Uma Análise Crítica Exórdio: A Distinção Necessária Desde as primeiras manifestações humanas no campo da religiosidade, a relação entre a experiência do sagrado e sua organização social tem sido permeada por tensões. De um lado, os princípios religiosos — experiências fundantes de sentido, valores originários de abertura ao mistério — e, de outro, as doutrinas religiosas — codificações normativas que buscam cristalizar essas experiências em sistemas teológicos, morais e jurídicos. É nesse entrelaçamento que surgem conflitos internos às religiões, muitas vezes obscurecendo a força vital da experiência fundadora em nome da manutenção institucional. 1. O Princípio Religioso: A Experiência Fundante Rudolf Otto, em O Sagrado , define o princípio religioso como a resposta humana diante do mysterium tremendum et fascinans — a realidade qu...

Sacerdote, Profeta e Sábio: Como Três Tradições Formaram a Literatura e a Memória Coletiva da Bíblia Hebraica

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Sacerdote, Profeta e Sábio: Uma Tríade Hermenêutica para a Literatura Bíblica do Primeiro Testamento Sacerdote, Profeta e Sábio: Uma Tríade Hermenêutica para a Literatura Bíblica do Primeiro Testamento 1. Exórdio: A Jornada do Camponês e os Ecos da Memória Coletiva Na vastidão do Crescente Fértil, um camponês conduz seu rebanho enquanto reflete sobre a vida. Em seu caminho, encontra três figuras emblemáticas: o sacerdote , o profeta e o sábio . Cada um oferece diferentes formas de interpretar a experiência humana: ordem ritual, clamor por justiça, e reflexão sobre a existência. Este encontro sintetiza a multiplicidade de vozes presentes na literatura que mais tarde será conhecida como Bíblia Hebraica, marcada pela tensão entre distintas maneiras de se articular o sagrado e o poder. 2. A Bíblia Hebraica como Literatura Histórico-Social A chamada Bíblia Hebraica não deve ser compreendida como um documento homogêneo ou como um texto metafisicamente “divino”, ma...

Estudo de Apocalipse 17: Exegese Bíblica, Simbolismo Apocalíptico e Reflexões Teológicas

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Exórdio - Estudo sobre Apocalipse 17 Exórdio A elaboração do presente trabalho foi motivada por eventos recentes que suscitaram um debate teológico intenso e controverso: a morte do papa Francisco. Este episódio, de grande impacto religioso e social, reacendeu uma série de interpretações escatológicas que circulam em ambientes acadêmicos e populares. Estas análises, muitas vezes marcadas por falácias interpretativas e simplificações sensacionalistas, relacionam Apocalipse 17 ao destino da Igreja Católica, apontando para uma alegada conexão entre o capítulo bíblico e o conceito de "o último papa". Tais perspectivas, ainda que amplamente difundidas, contribuem para o desserviço da religiosidade, promovendo leituras distorcidas que comprometem a integridade do texto bíblico e sua função teológica. A identificação do "último papa" como figura central de uma interpretaç...

Leis do Deuteronômio: Análise Teológica e Ecológica sobre Pássaros, Desmatamento e Santidade

Ninhos e Pássaros: Um Olhar Ecológico nas Leis do Deuteronômio Ninhos e Pássaros: Um Olhar Ecológico nas Leis do Deuteronômio Por: [Seu Nome] Exórdio: Conceitos Fundamentais e Contextualização O livro de Deuteronômio, parte integrante da Bíblia Hebraica, é muito mais do que um conjunto de leis religiosas; ele é um código legal sistematizado que reflete a tentativa de estruturar a sociedade judaíta em períodos de intensa transição histórica e social, especialmente após o domínio assírio. Com foco em valores como misericórdia ( hesed ), inclusão dos menos favorecidos e preservação da vida, o Deuteronômio apresenta uma visão que conecta o humano à criação divina. A ecologia, aqui entendida como o estudo das inter-relações entre os seres vivos e seus ambientes, encontra eco nas leis do Deuteronômio. As três passagens principais analisadas neste texto — Dt 22,6-7 (pássaros e ninhos), Dt...

Entenda a parábola do administrador injusto: Exegese de Lucas 16:1–14

A ASTÚCIA DO INJUSTO Fidelidade, Poder e Dinheiro no Evangelho segundo Lucas (16:1–14) Introdução autoral Este texto nasceu de um pedido de um amigo querido — Jonathan, teólogo, pedagogo e historiador — para refletirmos juntos sobre um dos trechos mais desafiadores e intrigantes dos Evangelhos: a parábola do administrador injusto . Lucas 16:1–14 apresenta um enredo desconcertante. Jesus parece elogiar a astúcia de um administrador infiel, que, ao ser demitido, usa da esperteza para garantir seu futuro. À primeira vista, o texto parece premiar a corrupção ou justificar práticas desonestas. Mas seria isso mesmo? Aqui, propomos uma leitura histórico-social crítica , que busca entender o funcionamento econômico do mundo romano, o contexto das comunidades lucanas e as tensões entre ética, poder e sobrevivência. I. Estrutura narrativa do texto: divisão e motivações O trecho de Lucas 16:1–14 pode ser dividido assim: Versos 1–8a: Parábola do administrador injusto (núcleo...

O que impede reconhecer Jesus? Exegese crítico-social de Lucas 24:16

Quando não se reconhece o Cristo Quando não se reconhece o Cristo Uma leitura crítico-social de Lucas 24:16 Exórdio No culto pascal da comunidade luterana que tenho frequentado, o texto da pregação foi o conhecido relato dos discípulos no caminho de Emaús ( Lucas 24 ). A celebração seguiu o tom tradicional: a vitória da vida sobre a morte, o reencontro com Cristo, a esperança reacesa. Mas algo na leitura me inquietou. No verso 16, segundo a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, aparece a seguinte formulação: “Mas alguma coisa não deixava que eles o reconhecessem.” A pastora comentou: “Não me interessa o que foi essa ‘alguma coisa’, mas o fato de que ela impediu os discípulos de reconhecer Jesus.” Pois a mim interessa — e muito — essa “alguma coisa”. Esta exegese é uma tentativa de devolver complexidade ao versículo, investigando o que de fato diz o texto grego, e perguntando: o que impedia os discípulos de reconhec...

Por que pensar teologia crítica e libertadora a partir de baixo?

Por uma teologia a partir de baixo Por uma teologia a partir de baixo: Crítica, liberdade e compromisso Fazer teologia a partir de baixo não é apenas um gesto metodológico — é uma postura ética, uma escolha espiritual, uma decisão política. É recusar o olhar do palácio e assumir o ponto de vista do chão. É desconfiar das certezas dogmáticas e preferir as perguntas feitas com os pés sujos de barro. É pensar o sagrado não do trono, mas da beira do poço, da prisão, da vila, da beirada da estrada. No Laboratório de Teologia , nossa proposta é justamente essa: construir uma teologia crítica, libertadora, profundamente comprometida com a vida real. Aqui, os textos não buscam defender sistemas. Buscam ouvir feridas. Pensar com as dores. Falar com quem não tem voz nos púlpitos, mas tem corpo nos campos e nas ruas. Uma teologia crítica Crítica não no sentido de destruir por destruir, mas no sentido mais nobre da palavra: exami...

Quem foi Papa Francisco? A memória pastoral e política de Jorge Mario Bergoglio

Francisco: o papa que preferiu ser padre? Francisco: o papa que preferiu ser padre? Uma memória pastoral e política da figura de Jorge Mario Bergoglio O anúncio da morte de Francisco I não silenciou o mundo. Ao contrário: reabriu feridas, reavivou afetos e fez ecoar debates que ultrapassam a figura do homem. Morreram o padre de Buenos Aires, o teólogo improvisado, o pontífice popular — mas permanece em disputa o seu legado. Muito já foi dito sobre Jorge Mario Bergoglio. Que era um jesuíta atípico. Que enfrentou resistências internas. Que ousou usar o nome de Francisco — em homenagem ao pobre de Assis — como gesto inaugural de seu ministério. Tudo isso é verdade. Mas talvez não seja suficiente. A impressão que fica, para muitos de nós, é que Francisco foi o papa que preferiu ser padre. Preferiu o gesto simples ao discurso elaborado. Preferiu o hospital de campanha à cátedra dourada. Preferiu a escuta ao dogma. Preferiu a dúvida honesta à ...

Teologia Crítica: conheça o Laboratório de Teologia e sua proposta inovadora

Laboratório de Teologia Por que pensar teologia crítica em um novo espaço? Sobre o nascimento do Laboratório de Teologia A teologia nasce da escuta. E escutar — de verdade — exige espaço. Durante anos, compartilhei textos, reflexões e ensaios no blog Cristianismo Livre , um projeto que cresceu a partir de experiências pessoais, estudos teológicos e uma insatisfação profunda com os modelos institucionais e dogmáticos da fé cristã. A escrita ali era direta, desafiadora, quase sempre desconfortável. E, talvez por isso mesmo, necessária. O tempo passou, as inquietações se refinaram, e os fundamentos se tornaram mais sólidos. Agora, nasce este novo espaço: o Laboratório de Teologia . Não se trata de uma ruptura, mas de um aprofundamento. A ideia aqui é continuar pensando teologia com liberdade, mas agora com maior rigor acadêmico, com apoio em exegese crítica, em bibliografia contemporânea e em diálogo constante com as ciências humanas. É um ...

Bem-vindo ao Laboratório de Teologia!

Bem-vindo ao Laboratório de Teologia Após anos de reflexões e diálogos no blog Cristianismo Livre, surge o momento de um novo começo: o Laboratório de Teologia. Este espaço digital nasce com o propósito de transcender as fronteiras institucionais e tradicionais da teologia, propondo uma leitura crítica, responsável e libertadora das Escrituras, que esteja ancorada na vida das comunidades e no compromisso com a justiça. Proposta Teológica No Laboratório de Teologia, assumimos uma postura de diálogo aberto e comprometido com as comunidades oprimidas e marginalizadas. A teologia aqui proposta é forjada a partir das margens — das experiências dos povos, suas culturas, lutas e esperanças. Não buscamos construir uma teologia estática, mas uma que seja transformadora, desafiando estruturas de poder que historicamente utilizaram a fé como instrumento de dominação. Reconhecemos as vozes das hermenêuticas contextuais e libertadoras, especialmente das tradições latino-americanas, como guias p...